Nos tempos idos em que conheci o Marcos, perambulando pela UFES, me deparei com algo que nunca tinha visto antes: O Centro de Artes. Também conhecido pela alcunha de CEMUNI. Mas me adianto um pouco.
Do início:
Naquelas tardes, era possível passar horas jogando papo fora em volta da mesinha de sinuca torta e porca do CCJE, onde cursava Publicidade. Mas estranhei aquela tarde em particular, onde não se via a alma viva dos companheiros de sala. Talvez estivessem fazendo uma prova da qual nem havia sido informado. E, se havia, esqueci-me. De qualquer modo, diferença não fez.
Sozinho, não havia graça em sinucar. Paguei meu café com leite e fui-me embora pelo campus. Nada interessante no cinema, resolvi me aventurar pelo já citado Centro de Artes.
Pessoas ainda mais estranhas que as do curso de publicidade habitavam as redondezas do local. Entre pseudo ripongas obesas de cabelos desgrenhados até espécimes mais modernosas de futuros artistas vendedores de Avon, estranhamente me sentia bem-vindo naquele ambiente. As paredes cobertas por cartazes de exposições e oficinas há muito fracassadas, as pixações com símbolos anarquistas envelhecidos pelo tempo... um lugar onde o universo parecia sorrir através de pessoas feias e sem objetivos. Enfim, a place to call home.
Por entre a porta de uma sala semi-aberta, observei um professor explicando sobre a teoria das cores. Sobre o contraste, sobre o calor da interação entre amarelos e vermelhos. Foram apenas dois minutos, mas pela primeira vez cogitei ter tomado o rumo errado, ao optar pela publicidade. Pensei em pedir transferência para qual fosse o curso onde aquela aula tomava parte. O vermelho e o amarelo. O fascínio das cores. Um novo mundo se abria para mim!
Dirigi-me à secretaria do local, pedir informações sobre transferência de cursos e etc. Perguntei à gentil secretária onde ficava a mesa de sinuca do Centro de Artes. Não havia, ela disse. Frente à negativa, peguei o busão para casa. Estava desiludido. E também impressionado com o fato de haver locais numa universidade onde pessoas eram felizes em sua ignorância. Onde estudantes passavam pela vida sem o bilhar nosso de cada dia.
No dia seguinte, voltei ao curso de publicidade. O concluí, certo que estava na direção certa agora.
Hoje, tenho a percepção de que o curso era uma merda mesmo. Mas carrego comigo as lembranças das tardes de sinuca com os amigos. Da UFES, pouco se salvou. Além das tardes ociosas e malandras, trago também com carinho a lembrança daquele curso sobre Teoria das Cores que cursei de forma tão breve e clandestina.
Dois minutos entre amarelos e vermelhos.