domingo, 24 de maio de 2009

Capitu na Ilha da Fantasia



Se eu tivesse que escolher uma impressão, só uma, do festival de anime que rolou por aqui no último sábado, eu ficaria com o cheiro ambiente. Não, não falo do aroma de yakissoba. Nem de flores, ou incenso, ou chá, ou peixe fresco, ou qualquer coisa relativa à cultura japonesa. O que dominava a quadra da Apae, onde o evento acontecia, era o cheiro de suor.

Eu, que não entendo nada de anime, recebi a primeira lição sobre o tema em menos de cinco minutos depois de entrar no recinto: aquelas fantasias são quentes pra caramba, e se a garotada não estiver com um bom desodorante o ambiente não fica muito agradável.

O estranhamento com o cheiro passou logo, mas demorei a me acostumar com o desfile de seres fantasiados. Parecia um encontro entre membros da KKK com destaques de escola de samba. Com bloco e papel na mão, fui em busca de seres para entrevistar. Tentei começar com moleque vestido de Pikachu, mas ele não quis saber de conversa. Vai ver ele tem superpoderes e previu que eu iria perguntar se ele prefere pica ou Chu. Até agora estou querendo saber por que um moleque de 15 anos inventa de se vestir de Pikachu. No meu tempo era Superman, Homem Aranha, Capitão América.

Circulei pelo salão em busca de outra fonte. Vi um sujeito meio gordinho e de topete. O traje, branco, com mangas compridas e penduricalhos, entregou de cara. Era um legítimo Elvis. Perguntei ao mancebo por que estava vestido de Elvis se o evento homenageava o Jiraia. O Elvis faz uma cara de quem não gostou, disse que não era Elvis, e sim Kaname Kuran, virou as costas e foi embora.

Logo depois o Fábio, que atuava como fotógrafo, sugeriu que eu entrevistasse uma moça vestida de Tempestade. Claro que foi uma sugestão com terceiras intenções, já que a mutante era bem feita de corpo. Com umas baitas coxas, não faria feio como passista de escola de samba. As botas de salto alto, então, deixaram a criatura com mais de um metro e oitenta.

Enquanto conversava com a mutante, lembrei de um lance que o Fábio havia falado. Segundo o co-editor da Capitu, nesses eventos de anime alguns rapazes mais empolgados se vestem como suas heroínas favoritas, da mesma que algumas meninas se vestem de Naruto ou Incrível Hulk. Aquele tamanho, a peruca e as lentes de contato azul me fizeram perguntar: será que a Tempestade é Wolverine? A voz era de mulher, os gestos e o volume frontal idem, mas a dúvida, machadiana, persiste. Por precaução, não me empolguei nos cumprimentos nem peguei o telefone dela.

Circulei mais um pouco e vi uma porta onde se lia “sala da dança”. Abri a porta e um vapor quente lambeu meu rosto. Era uma sala escura, com um ventilador de teto e umas adolescentes dançando alguma música que não identifiquei. O ambiente estava abafado, mas tão abafado que não consegui dar um passo adiante. Parecia um forró daqueles bem arretados, em barraco com teto de zinco sob sol de meio-dia. No way, meia volta volver.

Fica uma dica para os organizadores do evento. Que tal captar patrocínio com a Rexona? Pelo que senti, esses fãs de anime são clientes potenciais.

3 comentários:

revistacapitu disse...

Ao menos a enfermeirinha parecia sincera em sua feminilidade. Tristes são estes dias, onde dúvidas atrozes atrapalham a punha nossa diária.

Tatiane Lima disse...

Mandei um monte de vezes.. não seio se chegou! Estou irritada já!

Tatiane Lima disse...

Duanne, te adicionei no twitter @tatilima! A vida de jornalista é uma dor-de-corno constante!